Centros sociais paroquiais do Algarve reuniram-se para pensar missão à luz da Doutrina Social da Igreja

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Centros sociais paroquiais do Algarve reuniram-se para pensar missão à luz da Doutrina Social da Igreja

Encontro contou com a reflexão do presidente da Cáritas Portuguesa.

O presidente da Cáritas Portuguesa explicou na última quarta-feira, no Algarve, que os centros sociais paroquiais têm como missão a promoção do respeito incondicional pela dignidade das pessoas, do bem comum, da solidariedade e da subsidiariedade.

No segundo encontro dos centros sociais paroquiais do Algarve, realizado neste ano pastoral de 2012-2013 sob a presidência do bispo do Algarve e promovido pelo Secretariado da Pastoral Social da Diocese do Algarve, Eugénio da Fonseca frisou aos 44 participantes no Centro Paroquial de Paderne que estes princípios da Doutrina Social da Igreja (DSI) não visam o proselitismo da catequização, mas a evangelização. “A Igreja não tem estes centros para trazer mais católicos. Estes centros são expressão do amor que queremos que exista à face da terra e do qual a Igreja procura ser veículo”, afirmou.

Aquele responsável deixou também claro na sua intervenção sobre a “Ação e missão dos Centros Sociais Paroquiais à luz da DSI” que os centros paroquiais não promovem o assistencialismo, mas a “valorização da pessoa, aquilo que ela é, fazendo que seja cada vez mais”.

Para Eugénio da Fonseca é urgente abandonar o individualismo. “Temos de reconquistar esta ideia de que o nosso bem-estar depende do bem-estar dos outros e temos de lutar todos pelo bem-comum. E estes centros devem colaborar para que isso aconteça, para que desde pequeninos, as crianças tenham a convicção de que vivem em sociedade e que têm de ajudar a construir essa sociedade para bem-comum”, defendeu.

Neste sentido, aquele dirigente apelou a “uma solidariedade não entendida apenas como um sentimento que emerge quando há necessidades, mas como um sentido de responsabilidade que os cidadãos têm de ter” uns pelos outros. Eugénio da Fonseca criticou a “rígida delimitação dos campos de ação que impossibilitam a abertura a outras formas de solidariedade”, desafiou mesmo a “novas opções de solidariedade” que se estendam a “todas as pessoas e aos vários campos de ação” e apelou à “criatividade de ir para além do conteúdo profissional”. “Temos que dar um incremento maior à ação do voluntariado nos nossos centros sociais paroquiais”, defendeu.

O orador lamentou também que “toda a gente” fale de subsidiariedade mas o “centralismo” seja “cada vez maior” e considerou que os centros sociais paroquiais são expressão da “verdadeira subsidiariedade” e da “democracia participativa”. “As pessoas que estão colaborar têm de ter consciência que não estão a fazer favor ao estado, mas a cumprir a sua obrigação como cidadãos que se organizaram para contribuir para o tal bem-comum. Como o Estado não faz favor nenhum quando coloca à disposição destes órgãos intermédios os meios para que as pessoas possam colaborar”, disse, acrescentando que “o estado não dá nada às instituições”. “Dá às pessoas, através das instituições”, concretizou, defendendo que o Estado tem depois que “vigiar a execução desses meios para saber se as pessoas os estão a utilizar corretamente”. “O que o Estado dá é aquilo que os cidadãos lhe dão para ele gerir, é o dinheiro de nós todos que tem de ser distribuído também para o serviço de todos”, sustentou.

Neste contexto, defendeu um “maior planeamento” como forma de se diversificar serviços. “Com maior planeamento talvez se rentabilize mais o dinheiro que o Estado disponibiliza”, sustentou, apelando também ao “trabalho em rede entre centros sociais paroquiais, entre instituições da Igreja”.

Eugénio da Fonseca alertou para os riscos de pensar segundo os critérios da economia de mercado e para a “excessiva tecnicização dos meios que muitas vezes originam desumanidades”. “Não podemos reduzir os nossos utentes a números. Eles são pessoas”, advertiu, criticando que, às vezes com o excesso de técnica e burocracia, as pessoas “fiquem para segundo lugar”. “O pior que pode existir neste sector é trazermos para ele o «veneno» que existe dentro da economia de mercado. Se vimos para este mundo da solidariedade com as preocupações da competitividade ou da concorrência e não do servir as pessoas, não dá”, alertou.

O presidente da Cáritas, que defendeu a inclusão da formação para a solidariedade nos conteúdos catequéticos do magistério da Igreja, exortou ainda ao “aprofundamento da identidade” dos centros sociais paroquiais e à formação dos seus dirigentes. “O que é que temos de fazer que nos diferencie dos outros? Não podemos conformar a nossa ação à DSI se os nossos colaboradores não a conhecem”, constatou, desafiando aquelas instituições a refletirem com os colaboradores sobre os princípios daquele documento.

Aquele responsável lamentou ainda a falta de organização das bases. “Se estivéssemos organizados, se calhar provávamos ao Estado português que lhe damos mais do que aquilo que ele põe à nossa disposição para darmos às pessoas”, concretizou, lamentando a dificuldade na realização de um levantamento estatístico sobre as IPSS católicas em Portugal.

Samuel Mendonça – Folha do Domingo

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